sábado, 28 de julho de 2007

Apito Dourado - Indícios apontam para viciação de dados na I Liga

Depoimento de uma das testemunhas da operação Apito Dourado, ao Ministério Público, denuncia a existência duma lista de observadores para beneficiar Paulo Paraty.



O testemunho refere a existência de uma lista de observadores que deveriam ser escolhidos para assistirem aos jogos arbitrados por Paulo Paraty, o árbitro que aparece nas escutas a ser pretendido por Luís Filipe Vieira, presidente do Sport Lisboa e Benfica, para apitar o jogo do Benfica nas meias-finais da Taça de Portugal de 2003/2004.

O árbitro internacional Paulo Paraty esteve sob escuta durante a investigação da Polícia Judiciária. António Perdigão, ex-árbitro auxiliar com a categoria de internacional, disse ao Ministério Público que entregou a Valentim Loureiro, ex-presidente da Liga de Clubes, uma lista de observadores que deveriam ser escolhidos para assistirem aos jogos arbitrados por Paulo Paraty. O objectivo, assegurou, seria salvar Paraty da descida de categoria, já que na época 2002/2003 as notas tornavam a sua posição na tabela classificativa como bastante periclitante. Pelo visto, não denunciou o mandante.

Ouvido pela equipa de Maria José Morgado, que estranhamente na semana passada arquivou as suspeitas contra Paraty, por o crime em que este estava indiciado (abuso de poder) não prever a utilização de escutas telefónicas, afirmou que desconhecia a intenção dos dirigentes em mantê-lo na I categoria. Valentim também negou ter prestado tal ajuda, mas Mário Graça, o dirigente da Liga encarregado de nomear os observadores, escolheu sempre os árbitros indicados por António Perdigão.

Os autos revelam também que entre 8 de Fevereiro e 4 de Abril de 2003 as notas de Paraty subiram substancialmente. Até aí andavam à volta do 6,5, variando depois entre os 8,3 e os 8,4.

Ainda no mesmo período de tempo, as autoridades interceptaram uma escuta telefónica entre Pinto de Sousa e Valentim Loureiro, onde aqueles discutiam a situação do árbitro. O presidente da Arbitragem da Federação pediu ajuda ao presidente da Liga para evitar a descida de Paraty, já que naquele momento (Fevereiro de 2003) as notas do árbitro eram muito baixas.

Observadores escolhidos para o Benfica-Estrela da Amadora

Paraty voltou depois a aparecer no despacho referente à viciação das classificações em Novembro e Dezembro de 2003. Nessa altura foram interceptadas conversas que manteve com Pinto de Sousa, onde deu indicações sobre os observadores que pretendia que o acompanhassem nos jogos Benfica-Estrela da Amadora e Sporting-Setúbal.

A primeira escolha de Luis Filipe Vieira para a Taça

O nome de Paulo Paraty voltou a aparecer mais tarde no processo ‘Apito Dourado’. João Rodrigues, que funcionava como intermediário do Benfica, indicou o nome do árbitro como sendo uma ordem de Luís Filipe Vieira. A sua não nomeação para uma meia-final da Taça de Portugal chegou depois a criar um litígio entre Vieira e Pinto de Sousa, que obrigou Valentim Loureiro a intervir. O presidente da Liga telefonou ao presidente do Benfica fornecendo nomes de outros árbitros e dando-lhe conta de que Paraty não poderia ser escolhido por já ter apitado um jogo do Benfica. Vieira escolheu depois João Ferreira que veio efectivamente a apitar o desafio.

Tal como já aqui foi constatado diversas vezes, estas escutas não levaram à emissão de qualquer certidão e Luís Filipe Vieira, presidente do Sport Lisboa e Benfica, apesar de ter sido apanhado nas mesmas a escolher expressamente dois árbitros, nunca foi sequer constituído arguido, revelando assim, toda a investigação, perturbantes e inaceitáveis sinais de uma estranha parcialidade.

Aliás, a ser verdadeiro o testemunho de Ana Salgado, ao Ministério Público, põe em causa peremptoriamente a isenção do inspector Sérgio Bagulho, da equipa de Maria José Morgado.

Arquivados agora os processos-crime, Paraty terá agora de responder na justiça desportiva, para onde já seguiram todos estes factos.

OUTROS ÁRBITROS

Lucílio Baptista

Pinto de Sousa disse a Lucílio que conseguiu subir nota.

Carlos Xistra

Carlos Xistra pediu observador para Alverca-Setúbal.

ESCUTAS REVELADORAS

Azevedo Duarte fala com Pinto de Sousa sobre as alterações das classificações da arbitragem

A.D. – Estive aqui a estudar, vamos valorizar os que têm de subir e vamos tirar estes que estão para descer e não queremos que eles desçam [...] valorizamos também e os outros descem automaticamente, enquanto uns sobem na pontuação os outros descem e nós metemos [...] Cumprimos o que está no regulamento, porque quem sobe não reclama e quem desce pode reclamar mas está legal, está direitinho.

P.S. – Está perfeito

A.D. – O Paulo Torrão faz isso. Depois fazemos aquele show off de ir buscar ao cofre e não sei quê. Mas está tudo feito.

Pinto de Sousa e Valentim conversam ao telefone sobre a classificação de Paraty.

P.S. – Eu precisava de falar contigo, estou preocupadíssimo com o Paraty, a continuar assim ele desce de internacional [...].

V.L. – Não tem estado bem?

P.S. – Tenho as notas dele, dão para descer quanto mais para continuar como internacional.

Luís Filipe Vieira e Valentim conversam ao telefone sobre a escolha do árbitro para a meia-final da Taça de Portugal de 2003/2004.

V.L. - E o João Ferreira?

L.F.V. - O João... Pode vir o João. Agora o que eu queria... (...)
Disseram que era o Paulo Paraty o árbitro... O Paulo Paraty!

Jornalistas não violaram segredo... foi o funcionário

Doze jornalistas, dos principais diários generalistas e desportivos, entre eles o CM, foram ilibados da acusação de violação de segredo de justiça, no âmbito da cobertura feita no início do processo ‘Apito Dourado’.

O arquivamento foi decidido na semana passada pelo Departamento de Investigação e Acção Penal do MP e teve como fundamento o facto de não se ter demonstrado que os jornalistas acederam de forma fraudulenta ao processo. Defendeu então o magistrado que subscreveu o despacho que os jornalistas não cometem o crime de violação do segredo de justiça, sendo esse crime assacável apenas ao funcionário, magistrado ou polícia que tem a obrigação de guardar o segredo.

Nota: Este artigo teve por base um artigo da edição online do Correio da Manhã. Foi alterado e não reflecte de modo algum o que vinha no original. Pode lê-lo carregando na ligação que se segue:

Ver artigo original do Correio da Manha

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Uma verdade incontestavel no Jornal O Jogo...